Finalmente o inverno paulistano chegou em 7ºC! Para quem gosta de frio, é a hora de vestir os casacos e sonhar com neve. Mas confesso que, com o hábito de usar camiseta e chinelo no inverno de 20ºC do Brasil, errei muito quando me encontrei em uma nevasca. Pra minha sorte, encontrei pelos hosteis pessoas acostumadas com invernos rigorosos, que me ensinaram a não passar mais frio usar melhor meu guarda-roupa. E já dou um spoiler: use camadas!

Então é só vestir dez blusas, três calças e cinco meias?

Não exatamente. Uma das coisas mais importantes que aprendi sobre me vestir para não congelar é que é melhor ter roupas eficientes, do que usar muitas coisas ao mesmo tempo. Isso porque o ar precisa circular e criar bolsões entre as peças para manter a temperatura corporal. Então, se você se “espreme” em várias blusas e põe mil casacos, não tem como o ar circular. E aí, você pode até perder calor com mais facilidade.

Foi sentada em um hostel em Tromsø, quando estava -9°C do lado de fora, que um belga recém-chegado de uma temporada cuidando de renas no norte da Finlândia me ensinou as três camadas que você precisa: 

  • Uma blusa térmica e que deixe o suor escapar;
  • Um blusão de fleece ou jaqueta do tipo “down”, que são aquelas mais fofinhas, em geral, com plumas ou material sintético;
  • E uma jaqueta ou casaco, idealmente que proteja do vento e da chuva.

A primeira camada é mais confortável e precisa deixar a pele respirar. A ideia é não ficar molhada de suor, porque aí, a sensação de frio pode ser maior. A segunda camada vai ajudar a reter o calor corporal e te esquentar. Aqui, pode ser duas malhas finas, por exemplo. E a última camada é para proteger do vento. (Aliás, nas lojas físicas da Decathlon, onde costumo comprar essas roupas de frio, as peças de trekking são classificadas em camada 1, 2 e 3.)

Não esqueça protetor solar e óculos escuros na neve! O sol reflete na neve e queima muito

Cidade ou campo?

Isso faz muita diferença na hora de escolher a tal terceira camada. Se você for para um ambiente bem urbano, pode ser um casaco mais grosso, sem se preocupar muito se é impermeável. Nas cidades, a gente costuma entrar e sair de ambientes com boa calefação e consegue fugir do vento. Mas se você estiver numa caçada à aurora boreal, por exemplo, essa última camada precisa ser boa contra vento e água. 

Para calças, o esquema é parecido. Existe calça térmica, ou você pode colocar uma legging ou meia-calça como camada 1. Mas a camada externa vai depender do destino. Por exemplo, se for pro campo, existem calças forradas e que são quebra-vento. E você pode alugá-las em lojas esportivas no seu destino. Afinal, não tem porque comprar um trambolho desses para não usar no Brasil, né?

Pé frio

Aí você me diz: “mas eu sinto muito frio no pé. Vou pôr três meias.” Foi o que eu pensei. E não importa o que eu fizesse, meu pé continuava um gelo. Mas aí, eu lembrei desse tal ar que precisava circular. Aprendi que, se o pé fica muito apertado no sapato, é mais fácil perder calor. Precisa ter ar dentro do sapato pra “segurar” o calor ali (física nunca foi meu forte. Leitores que manjem de troca de calor, me expliquem a ciência disso?). E para manter os pés confortáveis e quentinhos, lã de merino é um dos materiais mais recomendados. É super leve e esquenta bem. 

Já quanto aos sapatos, começa a ficar mais difícil. O ideal é ter algo de cano alto, confortável e com solado ranhurado, para escorregar menos. Existem botas forradas, mas nunca consegui usar nenhuma fora da neve, porque são quentes demais pro meu dia a dia. O que usei muito foi um tênis impermeável, com a tal meia de lã. Não passei frio, mas não é o ideal, pois não ficava muito firme no pé. Só não vá pra neve com botas de camurça, porque assim que você entra em algum lugar fechado, a neve derrete e seu sapato fica encharcado.

E, para finalizar, não esqueça de luvas, gorros e cachecol. Agora existem luvas “camada 1”, que é pra usar por baixo de luvas quentes. Dá até pra usar o celular com elas. Eu gosto de usar um cachecol que dê pra cobrir o nariz. E quanto ao gorro, o que mais me atende é um forrado com fleece ou algum material que proteja as orelhas.

Rachel com gorro, cachecol cobrindo o rosto, casaco grosso com capuz, em rua com neve.
Aproveitei o gorro do casaco de lã para bloquear o vento – o que meu gorro não fazia bem o suficiente…

Lugares fechados

A ideia das camadas também é que você possa diminuir a quantidade de peças de acordo com o frio. E isso é muito importante para seu conforto. Além disso, desacostumada ao frio, eu não tirava nunca o casaco, mesmo quando entrava em lojas e restaurantes. A gente não tem muito esse costume no Brasil, né? Choquei os primos americanos quando passei o almoço inteiro de casaco. E foi assim que aprendi que é importante deixar o ar quente dos lugares com calefação entrar nas camadas internas. Então, se entrar numa loja, abra o zíper do casaco. Sentou pra almoçar? Tire o casaco e deixe seu corpo “esquentar”. Assim, quando você colocar o casaco de volta, tem mais calor corporal pra circular entre as camadas que você lindamente construiu.

E você, tem algum truque pra encarar o frio? Deixa pra gente nos comentários!