O passeio mais radical de Bonito, MS, é também o mais impressionante. Não é pra menos. Pra poder ver de perto toda a beleza do Abismo Anhumas, você precisa descer por 72 metros do topo ao chão! E de rapel!

A preparação
A aventura começa no dia anterior. O visitante é obrigado a passar por um treinamento pra poder entender em que está se metendo.
E não é exagero! No centro de Bonito fica a sede da única empresa responsável pela experiência radical. Ao chegar lá, 16 profissionais estão a postos pra explicar como tudo funciona.
Primeiramente, ficar atento à vestimenta é essencial. A recomendação é ir de calça (exceto jeans) ou bermuda na altura dos joelhos (sem ser jeans também). Tênis são obrigatórios.

Então, os monitores vão colocar o equipamento de rapel em você – sempre verificando se está tudo bem preso. Na sequência, é hora de fazer a subida manual movimentando os braços e os pés (cansa bastante!) até uma plataforma que fica a uns 10 metros de altura. Isso serve pra que você se familiarize com as cordas, os movimentos e a altura!
Lá em cima, outro profissional troca rapidamente a posição das cordas e ativa o mecanismo de descida, que é totalmente controlado por você no treinamento. Descer demora segundos… Pronto, teste concluído!
Aí, é hora de assinar o termo de responsabilidade (ou desistir) e fazer o pagamento do passeio. É a atração mais cara da cidade, custa R$ 1.120,00 por pessoa! Neste valor NÃO estão incluídos alimentação e o transporte até o abismo.
(Em Bagan, no Mianmar, deixei de fazer um passeio de balão caríssimo e me arrependi. Por isso, com planejamento, encarei esse).

Atenção! Depois de assinar e pagar (dá pra parcelar em até 3x), o dinheiro não é mais devolvido em caso de desistência.
O próximo passo é provar a roupa de neoprene para a flutuação que será feita no lago da caverna. E pronto, basta aguardar o dia da aventura.
O que é o Abismo Anhumas
O Abismo fica numa fazenda, a uns 20 quilômetros do centro de Bonito. Foi descoberto na década de setenta, quando o fogo colocado pra desmatar o terreno acabou se alastrando mais do que devia.
Então, alguns funcionários da fazenda encontraram o imenso buraco no chão, numa área mais distante, e perceberam que, lá embaixo, havia um universo totalmente inexplorado.

Após estudos de especialistas brasileiros e estrangeiros, que desceram primeiro para explorar a caverna na década de 80, o lugar foi aberto aos turistas a partir de meados dos anos 90.
As pesquisas indicam que a abertura do Abismo aconteceu há uns 10 mil anos e que a imensa caverna embaixo da terra se formou entre dois e quatro milhões de anos atrás.
O início da aventura
Apenas 30 pessoas, no máximo, podem visitar o Abismo Anhumas por dia. Tudo é controlado para que se interfira o menos possível no ecossistema lá embaixo.

Os grupos de até dez pessoas têm horários marcados (7h30, 8h30 ou 12h30 – este último só em feriados ou alta temporada). A estrutura do lugar não é tão moderna: existem banheiros químicos em cima, antes da descida, e não há alimentação disponível. Leve a sua!
Antes de iniciar a descida, você pode ir até um mirante observar o imenso buraco. Dá medo. Avalie bem se você vai querer ver antes de encarar o rapel. É sério!

Depois, os simpáticos monitores (são mais ou menos dez!) vão colocar todo o equipamento em você (inclusive os capacetes. Solicite os que têm suporte para GoPro, se decidir levar a sua. Mas não esqueça de levar a base para fixá-la).
Sua bolsa – ou mochila – com celular, roupa de banho e toalhas desce separadamente e sem problemas.
A descida de rapel!
Os monitores vão te colocar na plataforma de descida, prender todo o equipamento e dar as últimas orientações. É difícil prestar atenção, mas será mais fácil do que parece.

Vale lembrar que todas as dicas passadas no treinamento do dia anterior não precisarão ser usadas. A descida e a subida serão controladas pelos monitores. Seu papel será apenas curti-las (e controlar o medo, se preciso).
A descida, normalmente, é feita de duas em duas pessoas: uma de frente pra outra. E logo no início, o espaço é mais estreito por causa de imensas rochas.
Com luvas, você vai liberar a corda com a mão direita e apoiar a esquerda num local específico do equipamento. É só tentar cadenciar os movimentos a 72 metros de altura.
Após passar pelo espaço apertado entre as rochas, tudo se abre e é possível ver a espetacular e imensa caverna escondida embaixo da terra. Eis o Abismo Anhumas!

Descer demora uns 5 minutos. Lá embaixo, dois monitores aguardam nas plataformas de madeira montadas sobre um imenso lago de água cristalina.
Dentro do Abismo Anhumas
Na hora de definir e pagar o passeio, dá pra escolher fazer flutuação (pra observar o fundo do lago, enquanto nada na superfície) ou mergulhar com cilindro (apenas para quem tem o certificado específico de mergulho). Optei pela primeira opção.
Lá embaixo, a primeira coisa a se fazer é trocar de roupa e colocar a de neoprene. Ela serve para aquecer o corpo, já que a água costuma ser bem gelada: entre 18° e 20°C. Depois, é hora de pôr as máscaras e os snorkels para flutuar. O guia ajuda nessa parte.
A flutuação
Mesmo o interior da caverna sendo bem escuro, é possível enxergar embaixo d’água na hora da flutuação. Os olhos acostumam com a escuridão! Mas o monitor ajuda. Ele vai junto, iluminando vários pontos com a lanterna enquanto todo o grupo nada pelo lago durante meia hora.
É impressionante ver as formações rochosas de milhões de anos e pequenos lambaris nadando pra lá e pra cá. Os peixinhos não crescem mais porque o ambiente é escuro e tem pouca comida. O ponto mais profundo do lago tem 80 metros! Vale prestar atenção no “silêncio ensurdecedor” que existe por ali.

Em seguida, após a flutuação, todos podem tirar as roupas térmicas e nadar um pouco apenas com a roupa de banho, pra sentir a real temperatura da água. Vale tentar algumas fotos, pedindo ajuda pro guia: ele usa as lanternas pra fazer a iluminação.
O passeio de bote
No trocador, dá pra se secar e colocar novamente a roupa seca e os calçados. Aí, é o momento de entrar no bote e fazer um passeio guiado sobre a água da caverna pra observar todo o interior com mais calma.
A ação da infiltração da água com calcário pelas paredes formou vincos e desenhos impressionantes ao longo dos milhões de anos. Algumas formações rochosas do Abismo Anhumas parecem até esculturas, tamanha a perfeição.

Navegar por toda a gruta, ouvindo as curiosas histórias contadas pelo guia, dura uns 20 minutos.
Quando a navegação termina, chega a hora de retornar à vida real, voltando ao topo.
A subida
Até novembro de 2018, os turistas precisavam subir por conta própria até a saída do Abismo, lá em cima. Mas a atividade (que ainda é feita no treinamento) exigia muito esforço físico e muito tempo de cada um. Após uma enxurrada de reclamações, anos a fio, agora cada pessoa é içada até lá em cima.
O içamento é feito da forma mais raiz possível: usando a tração humana. Lá em cima, pelo menos cinco monitores caminham fazendo força para puxar um visitante por vez.

O percurso de subida dura uns dois minutos e é possível curtir mais o visual da caverna nessa hora, sem se preocupar muito com os movimentos.
Vale a pena?
A aventura completa dura umas quatro horas. O valor é bem alto para um passeio, mas a experiência é, de fato, única.
Pensar que tudo aquilo ainda é praticamente intocado e que se formou há milhões de anos, milímetro por milímetro, dá a sensação de exclusividade. Isso contribui pro alto valor cobrado.
Além disso, os profissionais, a segurança envolvida e as licenças e normas pra manter o Abismo em condições perfeitas também encarecem o preço do ingresso.
Se você tiver dinheiro sobrando e quiser fazer uma viagem logo ali, pro centro da Terra, eu recomendo. Vai ser difícil você se arrepender, mesmo que o medo seja mais forte na descida.
É que a sensação de superação e a experiência vivida vão acabar não tendo preço mesmo.
Babei! Babei muitão! Há anos espero pra ter a oportunidade de conhecer Bonito. Sou obrigada a incluir esse passeio na lista agora…
Bonito faz jus ao nome! E o Abismo é caro, mas é uma experiência inesquecível. Se couber no seu orçamento, não hesite. Beijos e boa viagem!