Povo, prepare-se. Hoje tem a MAIOR ENRASCADA da história do Colaborões. Quem nos conta isso é a jornalista Letícia da Silva (@leticiadasilv1). Ela passou um perrengue dos grandes no Leste Europeu, em abril. Imagine-se perdido num lugar sem saber nada do idioma local!

Pois é, com a ajuda de muita mímica (são anos de experiência jogando Imagem & Ação risos) ela e o namorado… bem, não vou contar o final do “filme” aqui, né? Não curto spoilers. Por isso leia com atenção pra não passar pela mesma situação, hein?

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Trem noturno no Leste Europeu? Cuidado, a Eslováquia está próxima

O título deste post pode soar estranho, mas já vou explicar. A pedido do amigo de uma década Tiago Scheuer, contarei aqui uma aventura pela madrugada fria da República Tcheca. Serve de alerta para quando você for reservar um trem noturno (ou pra quando for comprar com uma agência de viagem que não está acostumada ao roteiro que você resolveu fazer, como foi o meu caso).


Antes de embarcar e de se entregar ao sono, assegure-se com os funcionários a bordo sobre o itinerário e as possíveis trocas de trem no caminho. Ainda que o seu bilhete não preveja conexões, perguntar nunca é demais. E evita a confusão que vou narrar agora:

Às 3h, acordo com uma batida leve na porta de vidro da cabine onde eu dormia desde as 23h do dia anterior. Só quando vi a comissária ao lado da cama improvisada é que afastei o sono e entendi o que ela queria dizer num idioma incompreensível para quem nunca se iniciou nas línguas eslavas. Apresentei o bilhete do trem noturno que me levaria de Praga, na República Tcheca, até Cracóvia, na Polônia. E aí o semblante da minha interlocutora se transtornou.

Por alguns segundos, meu coração bateu num ritmo inversamente proporcional à velocidade desconcertante com que a comissária emendava palavras em tcheco. Ela balançava o bilhete, levava as mãos à testa, tentava me explicar o que eu já havia entendido: estávamos numa enrascada.

De repente, ela saiu da cabine e passou a acordar outros passageiros do mesmo vagão, atrás de alguém que falasse inglês. Acompanhei-a com os olhos apertados, braços estendidos ao lado do corpo, boca entreaberta, coração descompassado. Junto com o novo interlocutor, ela conseguiu um mapa do Leste Europeu.

O colega passageiro, sobressaltado do seu sono interrompido, me explicou que o trem não ia para a Polônia, como pretendíamos. Mas como, se antes de embarcar eu perguntei se Cracóvia era o destino final?! Ao contrário da informação que recebi da agente de viagens aqui no Brasil, o trem noturno NÃO era direto. Eu devia ter parado em Bohumín, desembarcado e esperado outro trem, este sim rumo à cidade onde o Papa JoãoPaulo II se iniciou no teatro, no comunismo e na religião, por fim.

Naquele momento, 3h, eu estava na… Eslováquia! Sem dó, quando o passageiro tradutor pronunciou o nome do país, a comissária apontou no mapa um ponto identificado como Hondonín, a cidade de fronteira com a República Tcheca onde pararíamos em 10 minutos. De lá, eu deveria pegar um trem de volta para Bohumín e, então, cruzar os dedos para que o trem certo rumo a Cracóvia ainda estivesse à espera (a saída estava marcada para 6h).

Na estação, meu namorado e eu esperávamos, encolhidos, o trem que nos levaria de volta. Não ousávamos competir com o barulho do vento que deslocava os vagões do trem estacionado em frente, quebrando o silêncio da madrugada. Além de nós, só o um guarda noturno, assustado de ver viajantes àquela hora num terminal de carga.

O nosso trem atrasou 50 minutos. No caminho para Bohumín, nem sinal do sono. Quando o sistema de som anunciou a tão aguardada cidade de conexão para a Polônia, o relógio marcava 5h58min e o fiscal fazia soar o apito para o trem partir.

De mochila nas costas, pernas forçadas a correr e desprovida de vergonha, atravessei a plataforma de embarque gritando “To Kraków, wait, wait!”. O fiscal apitou de novo e pediu para o maquinista parar, não sem antes ensaiar as caretas e os impróprios com que nos recebeu. Tamanha era a falta de oxigênio no nosso cérebro, de tanto correr contra o vento gelado do início da manhã de primavera, que àquela altura pouco importava levar bronca. Estávamos a salvo, longe da Eslováquia.

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Carai, essa história é cruel! Valeu por partilhar conosco também, Lê! Lembrando que a Letícia tem um blog de viagens também aqui!

E você, viajão? Já passou por um perrengue parecido? Então conta pra gente mandando sua história pro souviajao@gmail.com! Um abrass.