A colaborona de hoje dispensa apresentações (pra mim risos). É que a jornalista Sheila Calgaro eu conheço desde a facul. Não nos formamos juntos, mas ela embarcou em uma série de projetos comigo e com outros parceiraços.

A Sheila é uma das pessoas mais apaixonadas pela profissão que eu conheço. E isso fez com que ela fosse até Cuba, há quatro anos, experimentar um pouco do jornalismo e da Sétima Arte. Ela fez um curto de cinema por lá e pirou com o país!

Lembre-se: o Natal tá chegando. Se acabar o papel, limpa com jornal risos. Não entendeu? Leia a história e boa viagem 😉

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Sempre falo que vivi um ano em um mês quando fui a Cuba. Já faz quatro anos, mas, terei de utilizar o clichê: parece que foi ontem! Fiquei boa parte daquele mês em San Antonio de los Baños, cidadezinha próxima a Havana, onde fiz o curso de documentário na Escuela Internacional de Cine y Televisión (EICTV).

Já que minhas lembranças borbulham quando o assunto é esta ilha loucamente maravilhosa, preferi organizar este post em tópicos – sim, até aqui sou organizada, só pode ser TOC! (#medo)

Capítulo 1 – O bom e velho jeitinho… cubano!

Ahá! Se você pensa que brasileiro é que sabe dar o seu jeitinho, está enganado, meu caro. O primeiro jeitinho malandro que a burocracia cubana consegue dar é não ter o seu passaporte carimbado. Em troca, você recebe uma espécie de visto avulso: uma forma de, digamos, não “manchar” o passaporte caso tenha que ir a países como Estados Unidos, que lançariam um olhar nada 43 sabendo que você já pisou em solo cubano.

Outro jeitinho? Se não tem papel higiênico, se vira com jornal, oras! Estava em uma banquinha, buscando alguns jornais cubanos quando uma senhora falou mais ou menos assim:

– Vê aí um maço de jornais mais velhos pra eu levar? Já sabe o porquê, né?

Capítulo 2 – Falando em jornais…

Não queira ser jornalista em Cuba! É sério! A imprensa em geral parece papagaio do Governo: fazem propaganda de tudo que é bom e ocultam o resto.

Até mesmo para conversar com os cubanos, nós, estudantes, tínhamos dificuldades. Afinal, havia olhos do Centro de Governo Revolucionário vigiando as redondezas.

Tive a mesma sensação de outro aluno da EICTV, que disse: Cuba é, ao mesmo tempo, o céu e o inferno para um documentarista. Para qualquer lugar que se aponte uma câmera, você consegue uma bela história; o problema é o que se pode (leia-se: autorizado) filmar.

Porém…

Capítulo 3 – “No es fácil, pero tampoco es difícil”

Foi o que mais ouvi por aquelas bandas. Você realmente não precisa de muito para viver. Mas o suficiente. Como respiramos o capitalismo, temos opções mil para gastar nosso dinheirinho no final do mês. Lá, como são poucas alternativas, eles também não criam necessidades (fúteis) de ter isso e aquilo e mais aquilo outro.

Ou todos têm ou ninguém tem. Se faltar arroz para um, falta para todos e assim vai. Lógico, com algumas exceções, já que seu Fidel mora em uma casa bastante elitizada, pelo que dizem. Porém, lembro-me das palavras de um taxista, enquanto rodávamos por Cuba, vendo crianças brincando nas ruas, tarde da noite:

– Aqui, temos educação para nossos filhos, segurança, saúde de graça e comida não nos falta. Temos menos opções que vocês então… “no es fácil, pero tampoco es difícil”

Capitulo 4 – As novelas

Falando em rodar pelas ruas à noite, vocês não iriam acreditar na quantidade de televisores ligados nas telenovelas brasileiras. Na época, era uma de Manoel Carlos. Como pode? Afinal, toda novela do Maneco é baseada em personagens cheios da grana e super capitalistas. Vai entender…

Aliás, alguém viu aí o último capítulo de “O Clone” e se lembra do que aconteceu? Estou devendo até hoje esta resposta para um cubano que me abordou no avião (na ida para Cuba) perguntando se Jade havia ficado com Lucas, pois ele perdeu o último capítulo.

Capítulo 5 – De volta ao início… o Cinema

Cuba respira música, cinema e arte em geral. Como não há a obrigação de “vender um produto”, as produções artísticas são maravilhosas! Claro, sempre há exceções.

Um fato curioso foi o dia em que estive em um cinema de Havana. O nome do filme era “Personal Belongings”

(sim, em inglês) e cheio de clichês.

Porém, o mais impressionante foi que, na metade do filme, tivemos uma pausa para… que rufem os tambores! Tchan-tchan-tchan-tchan! Trocar o rolo! É sério!

Par fechar com chave de ouro, foram muitos clap-claps! Isso mesmo, a galera aplaudiu o filme de pé!

Esta aí a valorização da arte e da cultura em um país que a criatividade é puro estilo de vida – ou a forma encontrada de se viver em Cuba!

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Olha, tenho interesse em conhecer Cuba. Porque Lança Cuba, Cuba lança risos.

Se você quiser contar sua história de não usar papel higiênico também viagem, faça como a Sheila e mande pra souviajao@gmail.com! Estamos esperando!