Queria entender o porquê de sermos tão fascinados pelo sofrimento alheio. Sabe quando rola um acidente e junta uma cambada de urubu pra ver o que aconteceu? Sim, é do ser humano mess. Parece algo como: “nossa, o outro está pior que eu, minha vida não é tão ruim”.
Pois esse fascínio inclui também as visitas aos campos de concentração espalhados pela Europa. E eu, fascinado mess, queria ter a oportunidade de ver um de perto. Sei lá, diziam tanto que a energia era sinistra, que resolvi ir pra entender. Fui logo ao primeiro que existiu no mundo, o Sachsenhausen, que fica na “região metropolitana” de Berlim.
Ele fica um pouco retirado e, pra chegar até ele, purfa, siga as orientações!
– Pegue qualquer trem em Berlim e desça na estação Oranienburg (atenção para o bilhete, talvez tenha que comprar um especialmente pra essa estação, pergunte!);
– Na estação, você desce e atravessa a rua. O lugar é bem “de interior”. Pode ir a pé até o Campo (dá uns 20 minutos) ou pegar o busão, linha 804 (destino Malz) ou o 821 (destino Tiergarten).
– Peça pra que te avisem assim que estiver chegando no Sachsenhausen e pronto!
Ao chegar, você verá a fachada e já vai dar um arrepio. Tem um relógio parado ali em cima marcando a hora da primeira evacuação dos prisioneiros. A energia que ronda esse lugar é realmente sinistra. E a entrada é de graça. Ah, se você quiser aqueles guias de áudio, aí paga a parte.
No portão de entrada, está a famosa frase “Arbeit Macht Frei” (algo como “O trabalho liberta”), que servia para enganar os judeus (e também professores, homossexuais, etc, aquele povo contra o nazismo) que eram encaminhados aos Campos de Concentração.
Eles pensavam que iam pra lá pra trabalhar, quando na verdade viravam “escravos” nas mãos dos nazistas. Como todos sabem, a maioria era executada sem dó nem piedade.
Mas antes, eles sofriam muuuuuitoooooo.
E é esse sofrimento que a gente vê por todos os lados lá. Você passa o portão e já vê um enorme pátio. Tem arame farpado, objetos de tortura, as câmaras de gás – onde muitos morriam por asfixia, uma área por onde eles tinham que andar com sapatos vários números menores que os pés, pra sofrer mess, e muitas outras coisas sinistras.
As torres de controle ainda estão espalhadas por lá, era por onde os nazistas vigiavam os “prisioneiros”. Quem saísse da linha, obviamente, sofria muito e pagava com a morte.
Uma das partes mais cruéis são os alojamentos. Dá pra entrar neles e ver os beliches onde ficava a galera de pijama listrado.
Aliás, vários desses “pijamas”, que eram os uniformes, estão lá em exposição. Assim como objetos, peças de roupas, cartas de desabafo… tudo ali, pra gente ver de perto.
Algo que me chamou muita atenção fica bem na entrada, dentro de uma “vitrine”. É uma garrafa verde exposta, que tá quebrada, e dentro estava uma carta de um dos judeus contando os dias de desespero e sofrimento que viveu ali dentro.
Ele enterrou essa garrafa e ela só foi achada anos depois, quando o Campo já estava desativado. É de cortar o coração. O autor da carta, provavelmente, morreu ali.
Ficamos umas três horas lá dentro. Eu estava absorvido por aquele universo de tristeza e desespero. Parece que a gente sente no ar tudo o que aquelas pessoas passaram. Mais de duzentas mil estiveram no Sachsenhausen.
Quando acabamos a visita, parecia que um caminhão tinha nos atropelado, passando por cima várias vezes, dando a ré! Mesmo assim, recomendo! Bom pra “sentirmos na pele” um pouco dessa história tão recente e que a gente estuda na escola.
Saí de lá refletindo. Já faz três anos que fiz a visita e garanto que ela ainda mexe comigo. Daquelas que nem o tempo é capaz de tirar da cabeça. Maldito fascínio pela desgraça alheia.
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Serviço:
O Campo de Concentração fica na Straße der Nationen 22 – D-16515 Oranienburg.
Abre todos os dias. De 15 de março a 14 de outubro, das 8h30min às 18h. De 15 de outubro a 14 de março, das 8h30min às 16h30min.
Muito bom o post! Eu estive em Miami num memorial sobre o holocausto com imagens em tamanho natural dos “prisioneiros”, com os nomes de vários deles em muro de mármore e com vários monumentos e obras que lembravam o que foi aquela época (ainda vou postar no meu blog tbem). Isso já foi bem sinistro pra mim na época…acho que se eu multiplicar por 10, consigo entender o que foi sentir essa energia de uma visita no campo, como vocês fizeram!
Realmente, Fábio. É bizarro, mas gera um fascínio. Recomendo a visita, mas saiba que não será um “passeio agradável”.
Abraços e, se quiser nos contar como foi essa experiência em Miami, escreve pra nós que a gente publica aqui mess!